Cotidiano

Precisamos falar sobre pessoas com deficiência nas telenovelas

Nana Datto debate o tema no artigo “A representação das pessoas com deficiência nas novelas das nove, da Rede Globo, dos anos 2000 até 2020”, apresentado como TCC

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Você costuma ver pessoas com deficiência (PCDs) em novelas, filmes ou séries? E, quando elas aparecem, como são retratadas? Foi diante da falta de representação das PCDs nas produções televisivas que a palestrante e publicitária Nana Datto decidiu pesquisar sobre o tema em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado no curso de Comunicação e Publicidade da ESPM.

O resultado é o artigo “A representação das pessoas com deficiência nas novelas das nove, da Rede Globo, dos anos 2000 até 2020”, realizado com base na pesquisa de 40 novelas exibidas no horário das 21 horas, de 2000 a 2020, na Rede Globo.

Os resultados encontrados foram apresentados a um grupo focal formado por pessoas com deficiência ou que possuem estreita relação com esse público. “O grupo emitiu suas impressões sobre personagens e cenários representados e me permitiu chegar à conclusão de que ainda temos muito o que caminhar para uma produção televisiva mais diversa”, afirma.
Pessoas com deficiência na TV: representatividade ou capacitismo?
Nana Datto buscou investigar como as novelas, no período de tempo escolhido, representavam as pessoas com deficiência. Além disso, analisou o papel da televisão como construtora de padrões estéticos e comportamentais na sociedade brasileira, assim como investigou de que forma as telenovelas podem impactar nos preconceitos dos espectadores, a partir de suas representações, bem como verificar se há representação das pessoas com deficiência nesses programas.

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A primeira conclusão é que, no universo pesquisado, há poucas produções que trazem PCDs como personagens e nenhuma delas vivendo papéis principais. Em 20 anos, apenas as novelas América (2005), Páginas da Vida (2006), Viver a Vida (2008) e O Outro Lado do Paraíso (2011) mostraram pessoas com deficiência em suas tramas, mas, de acordo com análise do grupo focal, tais presenças ainda reproduzem capacitismo e estereótipos.

“Outro ponto que chama a atenção é que, dessas quatro novelas com representação de pessoas com deficiência, apenas duas (Viver a vida e O Outro Lado do Paraíso) tinham atrizes PCDs representando as personagens. Nas outras duas produções, (América e Páginas da Vida), as personagens PCDs foram representadas por atrizes sem deficiência, que é o que chamamos de cripface, quando atores/atrizes sem deficiência fazem papel de pessoas com deficiência”, explica.

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E por que isso é ruim? Além de reduzir ainda mais o mercado de trabalho para pessoas com deficiência, também é capacitista ao induzir à ideia de que PCDs não são aptos a desempenharem a função de atores/atrizes em novelas, filmes e séries.
Novelas em perspectiva
Em América, por exemplo, a menina Flor era uma criança cega e, de acordo com o grupo, foi retratada como alguém limitada ou incapaz. Em Páginas da Vida, as cenas com a personagem Clara, com síndrome de down, expõem o preconceito, mas poderiam se aprofundar na educação para a diversidade.

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Já em Viver a Vida, a personagem Luciana usava uma cadeira de rodas em seu dia a dia e mostrava as dificuldades enfrentadas pelas pessoas na mesma situação de forma mais realista, inclusive denunciado a falta de empatia.

Por fim, em O Outro Lado do Paraíso, a saga da personagem Estela, uma mulher com nanismo, mostrou questões como falta de acessibilidade e, ainda, como o capacitismo nos reduz à deficiência no dia a dia. Em uma das cenas mostradas, uma personagem referia-se a Estela como “a anã da cidade” (termo que, inclusive, não é adequado para se referir a pessoas com nanismo).
Ainda há muito para avançar
“Por mais que as telenovelas tenham sido realizadas com excelentes intenções e, sem dúvida, colaboraram para o avanço dos debates sobre inclusão no Brasil, ainda apresentam problemas como crip face, desinformação que gera estereótipos e infantilização do corpo com deficiência”, opina Nana.

Por outro lado, por serem um fenômeno cultural reconhecido pela sociedade brasileira, dado o seu potencial mercadológico e também pelo seu papel social como construtora de identidades e difusora da nossa cultura, promoveram um alcance inimaginável à luta por uma sociedade mais acessível e inclusiva.

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Por isso, ao levantar esse tema, Nana Datto busca auxiliar no rompimento dos tabus em torno dessas pessoas, uma vez que a deficiência é uma característica do indivíduo, mas não os limita a ela. “Os seres humanos são plurais, possuem diversas características e habilidades e possuem a capacidade de conversar sobre assuntos variados e realizar atividades distintas. E é assim, com pluralidade e individualidade, que queremos nos ver representados nas telas da TV”.

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