Rotina e pandemia: Entenda a relação da alimentação infantil e o desenvolvimento de transtornos alimentares
Camila Garcia, nutricionista infantil, alerta para o risco de transtornos alimentares
surgirem ou se agravarem nas crianças em meio à pandemia
A rotina das crianças, assim como dos adultos, mudou muito desde o começo da pandemia do coronavírus. Longe da escola e dos amigos, vivendo apenas dentro de casa, muitas vezes sentados em frente à televisão ou ao celular, e sem brincar ao ar livre. Alguns nem ao menos tiveram contato com o mundo antes do isolamento e conhecem uma realidade própria. Esses são cenários comuns das crianças brasileiras ao longo dos últimos meses devido ao contágio do vírus.
A nova rotina a partir do isolamento social afetaram a saúde física e mental de crianças e adolescentes. “Muitas crianças estão comendo alimentos com baixa qualidade nutricional, em grandes porções e mais vezes ao dia. Ainda tem aqueles que aumentaram a quantidade de comida ou que, infelizmente, desenvolveram transtornos alimentares e não conseguem comer normalmente.”, explica a nutricionista infantil, Camila Garcia.
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Federação das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), no Brasil, quase nove em cada 10 pediatras (88%) apontaram que as crianças apresentaram alterações de comportamento durante a pandemia. As mudanças mais comuns são as oscilações de humor, como passar de felizes e ativas para emburradas e retraídas. Em segundo lugar, aparecem sintomas como aumento da ansiedade, irritabilidade, depressão, agitação, insônia, tristeza, agressividade e aumento de apetite.
“Não podemos esquecer que as crianças também tiveram a rotina alterada e muitas eram bebês no começo da pandemia e agora estão na fase infantil. Então, o impacto psicológico do confinamento é uma das principais causas que levaram ao aumento dos casos de obesidade infantil no período. As mudanças de horários afetam na alimentação da criança.”, analisa a nutricionista.
Mais tempo em casa e, muitas vezes, mais tempo na frente das telas por causa do ensino on-line. “Em casa, a criança fica na frente das telas horas e horas, devido à escola ou entretenimento, o que aumenta os riscos de crescer os casos de uma alimentação desregulada ou casos como, seletividade alimentar e obesidade”, explica Camila.
Para a especialista em seletividade, o padrão alimentar mudou e aumentou o sedentarismo das crianças durante o distanciamento social. “Não devemos introduzir industrializados riscos em açúcar na alimentação das crianças. Principalmente, para aquelas menores de 2 anos. A preocupação é ensinar os pequenos a experimentar os alimentos. Pode parecer mais fácil apresentar alimentos industrializados, mas no futuro o trabalho para ensiná-los sobre alimentos de verdade será maior. Além disso, elas precisam gastar energia e a tela não faz esse papel.”, aponta.
Camila ainda faz um alerta: “Não é porque estamos em casa por mais tempo que os horários para a refeição precisam ser alterados. Não ter uma rotina certa aumenta as chances de beliscar entre as refeições”. E aproveita para dar uma dica: “Uma ótima solução é planejamento e organização durante a semana. Os pais podem preparar marmitas com alimentos variados. Com a organização na rotina, é possível seguir uma alimentação saudável e não só ficar optando por coisas práticas e alimentos industrializados”.
Sobre Camila Garcia
Camila Garcia é nutricionista infantil comportamental e acredita no poder da alimentação infantil como essência de um mundo mais leve e saudável. Formada em nutrição pela PUC-Campinas e pós-graduada em saúde e nutrição infantil pela Unifesp. CRN 34782.